- Admite, teria sido diferente se fosse a Andreia.
- Já te disse que a mim não me importa nada disso.
- Não te importa a ti, importa a ele. Olha como está murcho.
- Bebi demais, aliás bebemos os dois. Vamos dormir, amanhã falamos.
- É sempre amanhã que se fala, sempre… Mas no fim de contas é sempre o mesmo, eu sei.
- Não comeces com os teus filmes por favor, dorme.
- Vou dormir, vou.
Sinto o estômago as voltas, o sabor a whisky na boca e o fogo ardente a perfurar-me as entranhas. Menti, não vou conseguir dormir tão cedo. Não consigo deixar de pensar que ele foi para a cama com a Andreia na noite anterior. Deixaram-me sozinha e bêbada na cama, enquanto estavam a foder no sofá da sala. Parte disso foi culpa minha, por me ter fartado das fitas da Andreia e me ter vindo embora mais cedo sem eles. Quando eles chegaram já eu tinha adormecido. Se calhar, não me quiseram acordar e foram para a sala, quem sabe… A verdade é que aconteceu, ali mesmo. Eu vi como eles falaram de manhã, com culpa nas palavras. O choro da Andreia, por causa de outro rapaz, que puta me saíste cara amiga. As almofadas do sofá no chão, tal como as roupas de ambos. Era ambiente de sexo, sexo entre dois amigos bêbados, estavam ali as provas. E eu aguentei, fingi que nada daquilo me tinha atingido, que de nada me tinha apercebido. Meti uns óculos de Sol, para não me verem as lágrimas e aproveitei estar de ressaca para me justificar disso e do meu mau feitio. Agarrei num cigarro e fui fumar para as espreguiçadeiras ao lado da piscina. O ambiente lá dentro estava insuportável. Não aguentava ver a Andreia a chorar, fita a mais. Não aguentava tê-lo a ele a perguntar-me se estava tudo bem, depois de ter dito que me contava tudo, que bela mentira. Tentei saborear o cigarro, faze-lo durar o maior tempo possível para não ter que enfrentar a realidade. Acabou-se, acendi outro. Cada um de nós estava num canto diferente da casa, cada um com a sua culpa, com as suas tristezas, com arrependimento, com raiva. Só queria sair dali, mas mesmo assim fiquei. Fiquei a fingir que nada se passava.
Nessa noite, fui eu que bebi demais. Mal conseguia andar. Vomitei e ele limpou o meu vómito. Calado, devagar, sem se queixar, talvez consumido com a culpa do que tinha acontecido na noite anterior. Ajudou-me a ir para o quarto, a tirar a blusa vomitada e a vestir o pijama. Meteu-me na cama e quando se preparava para ir embora disse-lhe:
- Fica comigo, não quero ficar sozinha esta noite.
E ele ficou, com remorsos se calhar… Mas ficou, é o que interessa. Esta noite ele estava comigo.
- Bebeste tanto hoje, nem parece teu. – Disse-me ele.
- As vezes, acontecem coisas que nós não queríamos que acontecessem, descontrolamo-nos e quando damos por nós é tarde demais para voltar atrás. Não é verdade?
- Sim, tens razão… - suspirou.
Beijei-o, ele beijou-me de volta.
- Eu sei o que aconteceu ontem, senti-o nos vossos olhares.
- Não foi nada, estávamos bêbados. E não sabes como me arrependo.
- O que está feito está feito. – e comecei a enfiar-me para dentro dos lençóis. Consegui ouvi-lo a gemer, hoje ele era meu.
- Pára, por favor pára. – Diz-me.
- Ontem também lhe disseste isso?
- Não, foi o meu erro. Não tive reacção nenhuma, aconteceu.
- Então deixa acontecer hoje.
- Que se passa contigo? Não te estou a reconhecer.
- Tenho ciúmes. Como pudeste ir para a cama com ela?
- Já te disse, estava bêbado e ela insistiu.
- O que difere da noite de ontem para hoje?
- Hoje não estou tão bêbado, e não quero cometer o mesmo erro.
- Não, não é isso. E ambos sabemos isso. Se fosse ela, deixavas-te ir.
- Sabes bem que não sou assim…
E continuei a ouvi-lo, gemendo baixinho. Não tardou a explodir, pelos lençóis brancos e até em mim. Não foi o que estava a espera dele. Estava murcho, parecia o pénis de um velho de 80 anos, às portas da morte. Deuses, como estava furiosa! Ri-me dele, com nojo dele, com nojo da Andreia, com nojo de mim. Como fui ridícula, como sou ridícula!
- De que te ris? Já estás satisfeita?
- Tu é que pareces já estares satisfeito, já recolheste para dormir e tudo. – gozo com ele enquanto abano o pau morto dele.
- Estou bêbado, tenho sono, sexo é a última coisa em que quero pensar neste momento.
- A bebedeira é sempre a culpada de tudo…
- Porque é verdade, para com os teus filmes.
- Não são filmes nenhuns, ambos sabemos disso. Mentes-te a ti próprio e esperas que também acredite nas tuas mentiras. Admite, teria sido diferente se fosse a Andreia.